Dentro do Garrafão - Podcast sobre a NBA:

Relembrando Moses Malone

Postado em 19 de September, 2015

A morte de Moses Malone no início dessa semana foi um dos tópicos mais comentados no mundo do basquete, e não à toa. Malone foi um dos maiores que já passaram pelo esporte, e pela NBA.

Na semana passada, quando gravávamos o último episódio de nosso podcast – antes ainda desse triste acontecimento – passamos um bom tempo discutindo sobre as similaridades de Andre Drummond e Moses Malone quando o assunto é rebotes ofensivos. Uma pena esse pedacinho ter ficado de fora, mas mostra que mesmo hoje, 20 anos após sua última aparição em um jogo oficial da NBA, sua influência no jogo é enorme.

Moses contra Kareem, no Houston.

Malone foi o primeiro jogador a sair direto do high school para os profissionais, em 1974. Só que sua primeira parada não foi na NBA. Naquela época, uma outra liga profissional de basquete existia – a ABA.

Sem o corpo e a força de um pivô já desenvolvido, Malone passou suas duas primeiras temporadas profissionais alternando entre as posições de pivô e ala-pivô. Mas uma coisa já se destacava em seu jogo: sua habilidade em pegar rebotes.

Foram 17.834 rebotes em sua carreira, o que o colocaria em terceiro na lista de maiores reboteiros, caso seus 1.622 da época da ABA valessem. Sem querer começar uma discussão sobre quem é melhor que quem, digo apenas que Malone foi o melhor reboteiro ofensivo que já passou pela NBA, depois da era de Bill Russell e Wilt Chamberlain (ambos que cataram mais de 21 mil bolas, números que nunca serão batidos).

Assim que entrou na liga, em 1976, quebrou o recorde de rebotes ofensivos em uma temporada. E dois anos depois faria o mesmo, com 587 rebotes – marca que, não só ainda não foi batida, mas que só ele mesmo chegou perto.

Malone era uma criatura de outro mundo quando entrou na liga. Como acontece muito com atletas americanos, ele era dominante fisicamente. Darryl Dawkins, que faleceu no mês passado, foi outro jogador que se destacava por seus atributos físicos (e que também pulou da escola para o profissional, apenas um ano depois de Moses).

A diferença entre os dois, e que podemos entender facilmente olhando para a NBA hoje, é que Malone entendia o jogo como poucos. Ele nunca conseguiu ser alguém adorado pela mídia e pelo público, por ser calado e pouco articulado. Mas o pivô em quadra era um estudante do jogo. Moses trabalhava para melhorar constantemente, e sua dedicação e inteligência sempre foram notadas por seus companheiros.

Em comparação, Dawkins nunca alcançou todo seu potencial. E hoje vemos isso em muitos jovens na liga; jogadores que dominaram na escola e na universidade por terem sidos fantásticos atletas, mas que tem sérias deficiências em fundamentos do basquete. Sempre digo que esse talvez seja o motivo pelo qual vemos pivôs muito mais habilidosos saindo da Europa do que dos Estados Unidos – pela superioridade física dos americanos.

Voltando à Andre Drummond, ele é possivelmente o melhor reboteiro ofensivo da liga hoje. Tem a mesma velocidade entre pulos que Moses tinha, mas que talvez falte a dedicação e a determinação para ser o melhor. E isso Moses tinha de sobra.

No seu segundo ano na liga, Malone foi All-Star pela primeira vez – o que ele voltaria a fazer nos próximos 11 anos – e mesmo perdendo 23 jogos, continuou a liderar a liga em rebotes ofensivos.

Nos anos seguintes, ele se tornou o melhor pivô da NBA, recebendo seu primeiro título de MVP aos 23 anos, e liderando o Houston Rockets à final contra Larry Bird e o Boston Celtics em 1981.

Após serem derrotados em 6 jogos, Moses teve sua melhor temporada com o Houston Rockets em 1982, fazendo 31,1 pontos por partida, junto com 14,7 rebotes. Nesse ano também recolheu 21 rebotes ofensivos contra o SuperSonics de Jack Sikma – recorde que é dele até hoje – além de ter marcado 38 pontos.

Infelizmente, contra o mesmo SuperSonics, o Houston seria derrotado nos Playoffs logo na primeira fase, acabando com a era de Malone na equipe.

Em 1983, Moses jogaria ao lado de Dr. J (outro jogador com passagem pela ABA), Bobby Jones, Maurice Cheeks e Andrew Toney, no Philadelphia 76ers. Esse grupo já havia chegado à final em 3 oportunidades, sendo derrotado pelo Lakers de Kareem e Magic duas vezes; e pelo Portland de Bill Walton.

Moses Malone era a peça que faltava para a equipe se tornar uma das mais fortes da história da liga.

O 76ers foi o melhor time da temporada regular, terminando com 65 vitórias. Moses novamente foi MVP, com 24,5 pontos por jogo – mesmo ao lado de Julius Erving, que marcou 21,4 pontos por partida -, e novamente liderou a liga em rebotes, com 15,3.

Nos Playoffs, depois do famoso “fo’, fo’, fo'”, o Philadelphia perdeu apenas uma partida no caminho para seu primeiro título desde 1967, com Moses sendo o MVP das finais.

Moses comemorando seu único título da NBA

Poucos jogadores tiveram um ápice da carreira tão alto quanto Moses. E, de fato, seu período de superioridade na liga não teve uma duração tão longa, caindo consideravelmente durante seus 4 anos em Philadelphia. Mas mesmo não sendo o melhor durante os últimos 9 anos de sua carreira, Malone ainda postou uma média de 16 pontos e 9 rebotes por jogo, por 5 times diferentes.

Durante esse período, ainda se tornaria mentor de dois outros grandes jogadores: Charles Barkley e Hakeem Olajuwon.

Em 19 temporadas na NBA, Malone foi 4 vezes All-NBA First Team, 4 vezes All-NBA Second Team, uma vez All-Defensive First Team e Second Team. É o 5º maior reboteiro da história da liga; o 8º maior pontuador; teve seu número aposentado pelo Houston Rockets; e entrou para o Hall of Fame do basquete em 2001.

Infelizmente, hoje Moses não é tão lembrado quanto outros jogadores de sua época, apesar de ter sido um dos melhores. Ele não tinha um jogo espetacular como Erving, Magic, e Jordan – nem a facilidade de lidar com a mídia que esses três tinham – mas o melhor de Moses em quadra, não deixava nada a desejar.

– Matteo Manes